Catalunha, ponto crítico da rutura real com o regime do 78

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O processo independentista catalám vai ser mui complexo e longo, pragado de contradiçons, de avanços e retrocessos.

Atualmente as eleiçons catalanas de 27 de setembro som com toda certeza o elo fraco da cadeia de dominaçom imperialista espanhola. Paradoxalmente as forças e partidos espanhóis que se autodenominam de “esquerda ruturista” negam a existência deste ponto crítico, ao manterem similar discurso dos dous principais partidos do regime postfranquista. A “terceira via” que a coaligaçom encabeçada por Podemos e IU afirma defender na Catalunha -aparentemente equidistante do bloco unionista e do independentista-, é sem lugar a dúvidas o melhor instrumento de Madrid para evitar que o povo catalám decida democraticamente o seu futuro optando pola independência nacional frente a Espanha. Aplicando um conjunto bem articulado de sofismas e falácias que negam a inseparável vinculaçom entre mudança social e soberania nacional, o obsceno relato da new caste da Complutense reforça a “economia do medo” ensaiada com êxito polos USA desde 2001.

O progressismo hispano nom emprega as mesmas patéticas ameaças dos partidos tradicionais, empapados de catalanofobia. Porém, entre por um lado nom descartar umha intervençom militar (Morenés e Chacón dixit), falar de bloqueio financieiro ecorralito, fuga de empresas e incremento do desemprego, perda das pensions, exclusom imediata da UE, expulsom do Barça da Liga espanhola de futebol, etc, e polo outro identificar independentismo com a corrupçom e as políticas antisociais e reacionárias dos governos de Pujol e Mas, existe umha elevada coincidência: intimidar, utilizar o medo e as ameaças para impossibilitar a rutura e manter o status quo.

A disparatada proposta de Pedro Sánchez de trasladar o Senado de Madrid a Barcelona é um desesperado e improvisado pisco de olhos para frear a secessom e a fuga de votos do PSC ao independentismo.

 

“El País” recupera o relato fascista

O discurso único imposto nos meios de (des)informaçom da burguesia, paradigmaticamente exprimido no cabeçalho de “El País” do domingo passado, recupera o relato fascista ao caraterizar como separatismo a vontade de afirmar a liberdade nacional. Nom será determinante no 27S, mas sim é de grande utilidade para reforçar o chauvinismo espanhol na Galiza e entre a classe obreira do conjunto do Estado, carente de um referente revolucionário.

A intolerância e intransigência espanhola frente às mornas demandas de plenas competências estatutárias e renegociaçom do Pacto Fiscal, unido à amputaçom do Novo Estatut, aprovado no Parlament e referendado em consulta popular, tenhem sido determinantes para o desenvolvimento da consciência independentista entre amplos setores populares. Mas nom só! A diferença da Galiza, a perda da soberania nacional da Catalunha é muito mais recente. Foi no século XVIII quando a monarquia bourbónica logra dobregar militarmente a naçom mediterránea. No século XIX perde os seus direitos políticos, a capacidade de decidir, fazendo parte da “naçom espanhola”. Estes factos históricos, unidos à determinaçom de um setor destacado das suas elites de resistir à uniformizaçom cultural e manter acesa a reivindicaçom da recuperaçom da sua soberania, tenhem facilitado a pervivência e desenvolvimento de um ativo e vigoroso independentismo burguês e pequeno-burguês, eleitoralmente hegemónico no período da II República espanhola. Umha das causas do golpe franquista de 1936 era impossibilitar a emancipaçom das naçons oprimidas por Espanha: “prefiero una España roja a una rota”.

Mas também a nova esquerda revolucionária que se fragua ao longo das décadas de sessenta e setenta do século XX tem permitido facilitar a confluência do movimento obreiro, da luita de classes com a luita de libertaçom nacional. Nom devemos esquecer que a Catalunha tem a honra de ter sido a única naçom sem estado com representaçom direta na III Internacional por meio do PSUC de Joan Comorera.

Isto permite entender como as forças marxistas de libertaçom nacional após serem submetidas a turbulentos processos de catarse caraterísticos da período da II restauraçom bourbónica, fôrom capazes de vertebrar um entusiasta movimento político-social nacional com caráter de massas, de programa anticapitalista e feminista, plasmado na CUP. A sua ainda natural carência de hegemonia entre o povo trabalhador é o principal obstáculo para que o processo consiga a curto prazo o objetivo de um Estado catalám.

Mais alá das incógnitas que a dia de hoje ainda nom se podem resolver, pois a correlaçom de forças eleitoral e de representaçom parlamentar som fatores importantes, a burguesia que representa Convergência e também os setores intermédios representados por ERC, nom vam despreender-se do seu legalismo, e logicamente carecem da vontade e da coragem para um confronto direto com a Espanha, que tal como sempre fixo nom duvidará em empregar a força bruta para evitar que se continue comprimindo o impêrio.

Na história do século XX som casos excecionais aqueles em que a independência nacional emana de um “acordo”, tal como aconteceu com a República Checa e a Eslováquia em 1993. Mas este exemplo nom se pode entender à margem da prévia dissoluçom da URSS.

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Avanços e retrocessos

O processo independentista catalám vai ser mui complexo e longo, pragado de contradiçons, de avanços e retrocessos. É umha ingenuidade acreditar que umha maioria eleitoral e/ou parlamentar independentista vai ser aceitada pola metrópole.

Os setores mais coerentes da esquerda revolucionária independentista catalana som conscientes da fragilidade de um processo hegemonizado polo tandem CDC/ERC, da impostergável necessidade de seguir reforçando um contrapoder assentado entre a classe obreira e as camadas populares, de ganhar o povo trabalhador do cinto periférico de Barcelona, de aplicar umha estratégia de desobediência civil, mas nom só. Lamentavelmente a Espanha nom vai permitir a via pacífica para atingir a independência das naçons que oprime.

A reivindicaçom da independência nom se deve reduzir a perseguir tornar um Estado mais da UE, com soberania limitada, onde se perpetue a exploraçom e dominaçom da maioria social. O Socialismo é a única garantia para assegurar que a independência nacional nom se circunscreva a um mero formalismo. Nom só há que quebrar com Madrid, também com Bruxelas e Washington, abandonando a UE, FMI e a NATO.

A dia de hoje nom há garantias de que Mas e Junqueras nom procurem acolher-se a umha negociaçom de reforma constitucional federalizante com Madrid, após a previsível perda da maioria absoluta do PP em dezembro. Nunca nos devemos fiar da burguesia! Tentarám ganhar tempo para umha “soluçom” que só atrasará o inevitável: umha República catalana.

Galiza, 21 de setembro de 2015

Carlos Morais

Texto publicado no nº 164 do Sermos Galiza