II Manifesto de solidariedade com a Catalunya

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GALIZA POLA DEMOCRACIA E O DIREITO A DECIDIR

Tal como dizíamos o ano passado, o povo catalán topa-se diante de umha das mais importantes encruzilhadas da sua história, a só uns dias de umha histórica cita eleitoral que tem adquirido, embora a negativa do Estado, um verdadeiro carácter plebiscitário. O vindouro dia 27, o povo catalám tem a oportunidade de definir nas suas instituiçons até agora autonómicas uma maioria política que declare formalmente a independência e transforme o seu país num novo Estado no concerto dos Estados do mundo.

Até hoje, os diferentes intentos de encaixar Catalunha no marco espanhol fôrom sempre respondidos com negativas, curtes e becos sem saída que acabárom demonstrando que o exercício unilateral da democracia e do direito a decidir é a única via real para a resoluçom do conflito. O rápido crescimento do independentismo até se tornar um auténtico movimento de massas e mais a sua transversalidade demonstram, nos últimos anos, a impossibilidade de constringir a situaçom às estreitas e inoperantes margens que prevê o Estado espanhol para o exercício democrático. Um Estado espanhol que, entre outras cousas, negou o direito ao voto e ameaçou a povoaçom, e processou diversos agentes pola consulta democrática que a sociedade civil catalá promoveu a respeito da independência da Catalunha o passado 9 de novembro.

Espanha continua a amparar-se na lexislaçom herdada da ditadura, nomeadamente na Constituiçom Espanhola, para afirmar umha e outra vez que é impossível qualquer mudanza do marco institucional, mas o certo é que poucos povos do mundo puidêrom exercer o seu direito de autodeterminaçom sen previamente terem proclamado unilateralmente a sua independência formal. Novamente, diante das ameaças jurídicas, políticas, mediáticas e policiais lançadas polo governo de Madrid, as organizaçons que assinamos este manifesto queremos transmitir a nosa solidariedade ao povo catalám, assim como o nosso apoio às forças políticas que, por diversas vias, se apresentam a estas eleiçons plebiscitarias o 29 de setembro com a intençom de atingir umha maioria suficiente para proceder à declaraçom da Independência.

Como há um ano, apoiamos também o direito do conjunto dos Países Cataláns a decidir o seu futuro polos motivos que entom expugemos: por um elementar sentimento de solidariedade com todos os povos do mundo e polo apoio incondicional ao exercício do direito de autodeterminaçom como possessom inalienável de qualquer naçom. Somos também cientes, como entom, de que a abertura que hoje está a protagonizar o povo catalám contribuirá para normalizar a nossa própria aposta pola liberdade e pola soberania plena da Galiza. As organizaçons que apoiamos este manifesto fazemo-lo cientes de que a questom nacional se tem convertido num verdadeiro ponto fraco do regime político espanhol instalado na Transiçom, e que hoje constitui a principal via de ruptura precisamente com o sistema que o alimenta.

Finalmente, e do mesmo jeito que na anterior ocasiom, as assinantes desta Plataforma Galiza com a Catalunya animamos a numerosa comunidade galego-catalá a se implicar nestas eleiçons plebiscitárias, participando ativamente a favor da independência da sua segunda pátria, com a confiança de que algum dia participem tamém na libertaçom da primeira.

Organizaçons assinantes: 

  • Agir
  • Agora Galiza
  • Anova – Irmandade Nacionalista
  • Asociación Cultural A Galleira
  • Bloque Nacionalista Galego
  • Briga
  • Causa Galiza
  • Colectivo Nacionalista de Marín
  • Confederación Intersindical Galega
  • Frente Popular Galega
  • Isca!
  • Mar de Lumes – Comité Galego de Solidariedade Internacionalista
  • Movemento Galego ao Socialismo
  • Partido Comunista do Povo Galego
  • Primeira Linha

Comunicado nº 3: Posiçom de Agora Galiza no debate da candidatura galega

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Manifesto ao povo trabalhador galego, ao povo empobrecido e às forças políticas da Galiza

Posiçom de Agora Galiza no debate da candidatura galega

Ao longo do verao o debate sobre o formato dumha possível candidatura galega às eleiçons legislativas de final de ano, tem monopolizado boa parte da atividade política das forças patrióticas galegas e dos partidos da esquerda espanhola atuantes na Galiza.

Após o êxito de participaçom popular atingido no Dia da Pátria, em que por primeira vez o conjunto das forças nacionalistas e independentistas caminhámos conjuntamente com a adesom mais formal que real de IU, semelha lamentavelmente impor-se um modelo de convocatória que rebaixa o conteúdo e a reivindicaçom em favor dumha suposta “amplitude” de participantes.

Mas a manifestaçom do 25 de Julho convocada por um grupo de pessoas sem mais legitimidade que a sua maior ou menor projeçom pública, careceu da mínima exigível reivindicaçom soberanista e ruturista. Manifestámo-nos sem reinvindicaçom e objetivo definido, sem caraterizar e precisar o que pretendemos como povo e como naçom. Agora pretende-se repetir algo similar com as eleiçons às Cortes espanholas.

Agora Galiza participou no Banquete de Conxo 2.0 do que nasceu Iniciativa pola Uniom, e continuamos no seu seio como força observadora, aguardando a síntese das posiçons antagónicas presentes e os resultados dos possíveis acordos com a plataforma vinculada às Marés? e portanto respaldadas por Anova, IU e Podemos.

Defendemos com veemência a necessidade de um processo de reagrupamento das forças políticas e sociais galegas, mas nom por oportunismo tático eleitoral e sim por necessidade estratégica. Aqui radicam as razons para mantermos a dia de hoje profundas divergências com a orientaçom imediatista e minimalista que se despreende das iniciativas que pretendem copar o campo eleitoral à margem dos principais partidos sistémicos.

Nom existe contradiçom algumha entre reivindicaçom nacional e social. Num País oprimido qualquer força progressista tem que fazer parte do movimento de libertaçom nacional. Na Galiza nom se pode ser coerentemente de esquerda e estar situado no mesmo campo que os partidos e poderes que demagogicamente se afirma combater.

Perante o desenvolvimento em curso consideramos necessário precisar e transmitir ao nosso povo:

1- A única forma de derrotar as políticas ultraliberais e reacionárias, a receita da austeridade e permanentes cortes que padece o povo trabalhador e o povo empobrecido, é mediante a organizaçom e mobilizaçom popular.

2- A rua foi sempre, é-o e será, o espaço onde se pode derrotar a ditadura da burguesia, no nosso caso sob fachada democrática-, indisoluvelmente ligada a quebrar a opressom nacional que padece a Galiza.

3- É umha irresponsabilidade que as forças maioritárias da esquerda patriótica sigam alimentando o fetichismo eleitoral, neste caso abrindo as portas a flexibilizar o princípio de auto-organizaçom nacional e a indiscutível reivindicaçom da soberania da Galiza.
Qualquer cessom neste ámbito é um engano que só benefícia o unitarismo espanhol e portanto os interesses das empresas do Ibex 35 e da UE de Merkel.

4- A soluçom estrutural ao atraso e dependência da Galiza, origem e causa agravante dos problemas diários que padecemos a maioria social que conformamos este País, está intrinsicamente vinculada à conquista de um Estado Galego soberano.

Sem recuperarmos a nossa independência nacional nom é possível que o povo galego de forma soberana e democrática podamos quebrar o ciclo de agressons às conquistas sociais em matéria laboral, educativa, de sáude, às liberdades e direitos individuais e coletivos, que podamos evitar a destruiçom planificada do nosso idioma e cultura.

Sem recuperarmos a nossa independência nacional nom é possível que o povo galego de forma soberana e democrática podamos desenhar um modelo económico endógeno e autocentrado, que defenda e recupere os nossos setores produtivos estratégicos, ecologicamente sustentável, decidir que podemos produzir em base aos nossos recursos e potencialidades.

Sem recuperarmos a nossa independência nacional nom é possível que o povo galego de forma soberana e democrática podamos nom só defender a nossa língua e cultura, mas promovê-la de forma decissiva com vistas a recuperar a hegemonia social que lhe corresponde para evitar a sua desapariçom no conjunto do nosso território nacional.

Sem recuperarmos a nossa independência nacional nom é possível que o povo galego de forma soberana e democrática podamos construir umha sociedade plenamente igualitária entre mulheres e homens, podamos erradicar o terrorismo machista e os efeitos mais brutais do patriarcado sobre mais de metade da populaçom do nosso País.

Sem recuperarmos a nossa independência nacional nom é possível que o povo galego de forma soberana e democrática podamos evitar esta planificada crise demográfica que nos condena a desaparecer, frear a emigraçom maciça da juventude e facilitar a sua volta à Pátria.

Sem recuperarmos a nossa independência nacional nom é possível que o povo galego de forma soberana e democrática podamos estabelecer relaçons de fraternidade e solidariedade com o resto dos povos do mundo, fazer frente às políticas imperialistas da UE e dos EEUU que sementam guerras, arrasam culturas e provocam êxodos de populaçons como os que nestes dias Ocidente pretende impedir com arame farpado.

5- A soberania e a independência nacional é o nó gordiano de qualquer projeto político verdadeiramente ruturista. Nom se pode depositar o futuro da Galiza a um processo constituinte alheio ao nosso específico e diferencial quadro nacional de luita, confiando na “boa vontade” das forças espanholas, por muito que a dia de hoje se vistam de “esquerda ruturista” e proclives a umha “descentralizaçom federal”, porque a nossa experiência histórica mais recente (Estatuto de 1936, Estatuto de 1981) constata que compartilham similar paradigma que os partidos do regime e nom cumprem com as promessas.

Nem Podemos nem IU vam facilitar o exercício de autodeterminaçom do povo galego pois só pretendem remendar a mesma Espanha que os une ao PP e ao PSOE. A rutura com o regime nom procederá das filas da mal chamada “esquerda ruturista”, que só aspira a alternáncia sem mudar o paradigma espanhol. O elo fraco do sistema som as luitas independentistas das naçons oprimidas. Concretamente a dia de hoje a Catalunha.

6- Só se pode avançar na necessária e urgente unidade do povo trabalhador galego mediante umha aliança articulada à volta dum programa claramente antineoliberal e feminista, promovida polas forças organizadas no ámbito político, sindical e social em complementaçom com as pessoas dispostas a involucrar-se ativamente nesta tarefa.

Nom podemos legitimar que um reduzido grupo de figuras do mundo da cultura e do espectáculo, sem trajetória nem vagagem de luita, substitua o rol do povo auto-organizado.

Galiza como todas as sociedades do mundo está conformada por pessoas, mas as gentes que configuramos este País nom somos um todo homogéneo e amórfico. Somos umha sociedade de classes, com contradiçons antagónicas entre a maioria social que conformamos o povo trabalhador, empobrecido e excluído e a minoria que se beneficia da nossa exploraçom e opressom. Somos um País, onde fruto das políticas neoliberais que caraterizam esta fase de crise estrutural capitalista, se tenhem agudizado as diferenças sociais.

Assim como a libertaçom nacional da Galiza só pode ser dirigida polo povo galego, assim como a emancipaçom das mulheres depende basicamente das mulheres, atingir umha sociedade baseada na justiça social, na distribuiçom equitativa das riquezas e nas liberdades corresponde ao povo trabalhador e ao povo empobrecido e excluído.

7- Agora Galiza, organizaçom socialista e feminista galega de libertaçom nacional, somos umha força com os pés na terra. Nom procuramos remendos nem encaixes, nem termos peso ou capacidade de influir na metrópole madrilena, nom queremos conciliaçons com os inimigos da Galiza e do seu povo.

Como força política revolucionária agimos com a verdade sempre por diante. Nom contemplamos enganar o nosso povo. Eis polo que nom podemos secundar os diagnósticos, nem muito menos os prognósticos triunfalistas que se lançam das fileiras dos cavalos de Troia que procedendo do nacionalismo e do independentismo galego, facilitárom a penetraçom do espanholismo no movimento popular.

O regime emanado da maquilhagem franquista sofre um evidente desgaste e sabe que necessita reformas para a sua estabilidade e perpetuaçom. Porém, nom se acha em descomposiçom nem estamos assistindo a rebeliom cívica algumha. Precisamente em parte isto nom se produz pola ausência de forças ruturistas espanholas e porque o ilusionismo eleitoral desmobilizou o ciclo ascendente de luita de massas. As eleiçons legislativas de dezembro nom representam “ocasiom histórica”.

PSOE e PP som as duas caras do bipartidarismo. Podemos e Ciudadanos as peças auxiliares para perpetuar o chauvinismo espanhol e impossibilitar o exercício do direito universal de autodeterminaçom nacional.

8- Onde realmente o regime se joga o seu futuro é nas plebiscitárias da Catalunha de 27 de setembro. E precisamente no verdadeiro elo fraco que ameaça o regime do 78 as mal denominadas “forças ruturistas”, articuladas numha terceira via e portanto contrárias à independência da Catalunha, som o motor auxiliar do unitarismo espanhol, colaborando assim com os interesses da oligarquia e do grande capital.

9- A rutura emergerá do sucesso e capacidade de hegemonia social dos processos emancipatórios das naçons oprimidas por Espanha, dirigidas polas esquerdas independentistas e socialistas.

Eis polo que é tarefa prioritária reforçar organicamente a esquerda independentista com vocaçom de seduzir e contagiar o nosso povo na fê de vencermos com os nossos próprios meios, sem hipotecas a forças foráneas.

10- Tal como manifestamos no início deste manifesto Agora Galiza considera que os processos eleitorais som um frente de luita mais, nom o prioritário, mas sim relevante.

Porém, qualquer participaçom da esquerda independentista numha candidatura nacional galega está condicionada polas seguintes condiçons:

  1. Plataforma eleitoral sob formato de coaligaçom ou frente de forças políticas, partido instrumental ou qualquer outro modelo, articulado à volta das organizaçons sociais, sindicais e políticas galegas mediante um processo combinado de caráter assemblear com a participaçom e integraçom de pessoas sem militáncia.
  2. Dotado de um programa genuinamente soberanista, antineoliberal e feminista.
  3. A representaçom parlamentar atingida terá plena personalidade jurídica e portanto soberania absoluta de qualquer grupo.
  4. Os seus objetivos som defender os interesses da Galiza e do nosso povo, combater o regime da segunda restauraçom monárquica, assumindo um rol antagónico a qualquer reforma constitucional ou facilitar alternáncia entre os partidos do regime.

11– Perante esta situaçom, apelamos ao BNG a nom ceder na defesa intransigente do princípio de auto-organizaçom, a Anova e às Marés a despreender-se das alianças com o espanholismo, à totalidade do independentismo galego organizado a abandonar a apatia política eleitoral, e ao conjunto das forças patrióticas galegas a tecermos um amplo acordo com um programa avançado que permita que a Galiza como sujeito político próprio conte com umha poderosa voz rebelde nas instituiçons que nom nos representam.

Direçom Nacional de Agora Galiza

Na Pátria, 1 de setembro de 2015

Inevitavelmente soberania

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Artigo publicado originalmente em Sermos Galiza,
por Teresa Moure.

Dizem que o regedor duma cidade galega vem de declarar que a reivindicação de soberania está ultrapassada pelo momento histórico. Dizem que ele assegurou que prioriza os direitos sociais sobre a soberania. Talvez perceberam mal – os jornalistas, já se sabe – e ele nunca tal disse. Nisso quero acreditar porque uma declaração semelhante seria demagógica; destinaria-se a procurar a cumplicidade pública num momento de crise. Aliás, e mais grave ainda, estaria-se a demonstrar que não se entende nada de Política quando se convoca para atender o urgente sobre o necessário. Decidir entre pão ou justiça. Decidir entre dispor de eletricidade na casa ou ter capacidade de gerir os recursos. Decidir entre acabar com os despejos ou construir uma política de vivenda em defesa da classe trabalhadora. Essas dicotomias são absolutamente falsas: sem justiça social não há pão; sem possibilidade de administrarmos os recursos energéticos apenas sustemos os benefícios das empresas; sem soberania dependemos do que outros decidam fazer. Soberania é, portanto, igual a direitos sociais. Sem dicotomias. Quem nos declaramos independentistas não atuamos por estética, mas por ética. Não nos perdemos em palavras bonitas. Trabalhamos por uma alternativa política que assegure para a maioria invisível da população uma vida que pague a pena de ser vivida −a minoria bem estabelecida no sistema já a tem garantida−.

Como nos habituamos a que os médios de comunicação diluam toda a força das mensagens alternativas em conteúdos vácuos, os conceitos básicos da política parecem feitos, como sugeria Orwell, para dar aparência de verdade ao puro vento. Tudo é permitido. Vivam os jogos malabares! Despovoamento do rural, migração maciça da juventude, diretrizes económicas ao serviço do capital, recursos naturais minados por interesses alheios e desastres ecológicas irreparáveis obrigam, porém, a revalorizar o termo soberania, nunca a enfrentá-lo às necessidades mais elementares dum povo maltratado.

Um dia, os cientistas da natureza descobriram que a Terra era redonda. Não tinham grandes instrumentos de observação; conceberam a hipótese na pura teoria e pagaram bem caro, frequentemente com as suas vidas, uma afirmação que se opunha às crenças teológicas imperantes e associadas diretamente ao poder. Daquele momento, ninguém no seu bom juízo pode permitir-se duvidar de se a terra é redonda. Simplesmente ficaria desautorizado por se atrever a sugerir que é plana. Nas disciplinas menos empíricas, como a Teoria Política, instaurou-se, no entanto, um paradigma onde tudo, absolutamente tudo, pode ser matéria de opinião. Um observador ingénuo poderia pensar que esse paradigma é democrático, visto que o pessoal pode opinar à vontade. Na realidade, inaugurou-se o universo do tertuliano, esse ser que difunde as suas ideias sem contrastação mas que, como está colocado diante de poderosos microfones, consegue uma reputação que avaliza qualquer disparate. Por isso cumpre lembrar que o conceito de soberania remete diretamente à noção de poder: quem decide, como é que decide e porquê. No âmbito doméstico, se a dicotomia do regedor mencionado fosse certa, diríamos que uma pessoa poderia delegar em outra, deixando de decidir o que compra para que o decidisse o vizinho do lado, se assim assegurasse ter um prato na mesa. Mas ter ou não o prato na mesa dependeria exclusivamente nesse suposto da boa vontade do vizinho do lado. Daí, diferentes doutrinas políticas trabalhariam visualizando o conflito possível entre os vizinhos e os seus interesses ou minimizando-os, mas na lógica quotidiana, todo o mundo preferiria decidir sobre o seu. Isso é soberania.

No ano 2014 diferentes especialistas em Teoria Política, Economia, História, Linguística, Filosofia e Análise do discurso, junto a ativistas dos mais variados movimentos sociais foram convocad@s na Universidade de Santiago de Compostela por um Curso de Verão que tive a honra de dirigir. O título do encontro era Soberania(s): corpos, hábitos e territórios. Contra qualquer limite académico e desafiando a estreiteza habitual dos espaços universitários, trabalhamos as noções de Independência e Estado, a história do pensamento nacionalista galego, mas também o plano simbólico da defesa da língua e do seu futuro num âmbito internacionalista, o direito a decidir sobre o próprio corpo ou o território dos cuidados, espaços estes dois privados que entram em confluência com o público. Nessa perspetiva interdisciplinar, as noções e as práticas emanadas do feminismo, do decrescentismo, do reintegracionismo, da auto-gestão caminharam de mãos dadas com as tradicionais formas da esquerda independentista galega para obtermos resultados altamente satisfatórios do ponto de vista académico –por não falarmos em que eram revolucionários do ponto de vista político –. Daquela experiência extraio a conclusão de que Soberania é um conceito tão irredutível, tão potente e inquestionável como o da redondeza da Terra. Se ainda alguns julgam que podem prescindir dum tal conceito e manter-se em linhas minimamente transformadoras, provavelmente não estão corretamente informad@s, tal e como aconteceria se assegurassem que a Terra é plana. O fluir de ideias revolucionárias que emerge nesta altura na Galiza –dos ativismos de estrela vermelha às práticas autárquicas, das diversas praxes feministas ao desafio de se instalar na língua acossada pelo poder e mesmo a escrevê-la numa ortografia diferente da incutida na escola– compõem um leque amplo de estratégias que devem procurar sinergias conjuntas para dar alternativas reais num panorama político devastado e desolador.

No amplo espectro do soberanismo galego, fragmentado e plural, assistimos nas últimas semanas a diversas manifestações de fortaleza. Uma, a convocatória unitária dum Dia da Pátria. Outra, as distintas homenagens oferecidas ao combatente Moncho Reboiras, assassinado na Ditadura. Ambas têm uma alta potência simbólica. Porém ambas podem ser reinterpretadas no mundo dos opinadores. O 25 unitário pode ler-se como apenas uma maneira de encenar uma candidatura unitária perante determinados comícios eleitorais. Era muito mais que isso quando alguns discursos invocavam explicitamente a rutura democrática. As homenagens a Reboiras podem criticar-se como um obituário onde gastamos as forças em atos de consumo interno, que apenas conseguem eco fora dos nossos âmbitos imediatos. Mas a memória serve para alimentar a esperança. Obviamente, o ruge-ruge mediático e o nosso criticismo continuado podem minar tudo. Por isso talvez deveríamos convocar urgentemente a honestidade no atual panorama e não tolerarmos a simplificação. Para que ninguém possa afirmar que escolhe primar os direitos sociais sobre a soberania. Para que ninguém possa declarar que a Terra é plana.

Homenagem a Moncho Reboiras – 40 aniversário da queda em combate

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12 de agosto de 2015, praça do Toural, Teis, Vigo.

Lamentavelmente a Galiza pola que luitou Moncho, a Pátria com a que sonhou Moncho, o País ao que entregou a sua vida Moncho Reboiras, nom se assemelha ao de 1975.

40 anos após o assassinato do revolucionário galego pola polícia espanhola, da queda em combate do fundador da esquerda independentista contemporánea, tem-se perpetuado exponencialmente o atraso, a dependência, a assimilaçom e a exploraçom da Galiza por Espanha. Todos os indicadores socioeconómicos e lingüísticos asssim o confirmam.

Esta praça -pola que tanto transitou a inícios da década de setenta Moncho Reboiras-, é exemplo sangrante dos enormes retrocessos que a Galiza e as suas camadas populares, temos experimentando nestas últimas 4 décadas pola açom combinada do tandem Madrid-Bruxelas.

Onde antes viviam dezenas de milhares de trabalhadores do mar, de assalariados da construçom naval, de operárias da conserva e do têxtil, hoje é um bairro assolado pola emigraçom e o desempego, onde é visível a pobreza e a exclusom social a que nos condena o capitalismo espanhol e a Uniom Europeia.

Sim, companheiras e companheiros, amigas e amigos, que hoje nos acompanhades na primeira atividade pública convocada em solitário como Agora Galiza, nas últimas 4 décadas a opressom espanhola sobre a nossa Naçom e o nosso Povo tem avançado mais que nos 5 séculos anteriores, quando se consumou a perda da nossa soberania.

A verdade sempre é revolucionária. E nós, Agora Galiza, como organizaçom socialista e feminista galega de libertaçom nacional, nom queremos, nem podemos questionar este axioma.

Temos um compromisso insubornável com a Galiza do Trabalho, com as mulheres que padecem múltiplas e especiais situaçons de vulnerabilide, e com o País que sofre as lacras do desemprego, da pobreza e da emigraçom. E nom queremos defraudá-lo.

Eis polo que nom ocultamos o nosso povo a grave situaçom que atravesssamos, as negras perspetivas que se albiscam no horizonte, os lentos mas efetivos planos de extermínio que Espanha tem traçado.

Mas contrariamente aos fraudulentos discursos, às falsas promessas das mal denominadas “novas forças ruturistas”, desses partidos foráneos que se instalam no País abduzindo organizaçons de matriz galega mutadas em meras comparsas madrilenas, nom acreditamos nas receitas da alternáncia do parlamentarismo burguês, nem na aritmética eleitoral do regime.

Nom somos contrários à luita institucional, nem a participar na frente eleitoral. Claro que nom! Temos vocaçom de contribuir em todos aqueles lugares onde se jogue com o futuro de nós mesmas, onde se decidam as condiçons de vida, o grau de liberdades e as conquistas sociais da gente deste País, onde se adotem decisons sobre todo o vinculado com a Galiza. Nom podia ser de outro jeito!

Porém, seguindo um dos principais legados do dirigente independentista que hoje nos convoca aqui e agora, a auto-organizaçom nacional é um princípio indiscutível, inegociável. Nesta questom Agora Galiza é intransigente.

Os povos libertam-se com forças próprias. As maiorias sociais emancipamo-nos quando de forma organizada e com consciência do que queremos, luitamos por atingir os direitos sociais, as liberdades e a independência.

A história universal e a nossa própria história nacional tem dado dúzias de leiçons sobre os erros cometidos por muitos povos como o nosso, acreditando nas promessas e nos cantos de sereia foráneos, depositando expetativas na ajuda externa, confiando na vitória de forças alheias como determinante para a nossa própria vitória.

Somos nós, abert@s a toda a solidariedade que nos ofertem outros povos, mas somos exclusivamente nós, quem temos que construir a alternativa libertadora e emancipadora para assegurar a pervivência da Naçom galega e um futuro de benestar, justiça e liberdades para o povo galego.

Confiamos nas imensas potencialidades da Galiza e d@s habitantes desta casa comum que forjamos ao longo da história, para abordar sem ingerências nem tutelagens, -tal como Moncho nos ensinou!, o nosso futuro.

A única forma de abandonar o pesadelo neoliberal imposto por Zapatero, Rajói, Ángela Merkel, Tourinho e Feijó, a única forma de superar os ditames letais de memoranduns, resgates e condiçons da Europa dos banqueiros, dos especuladores e das multinacionais, a única forma de safar das condenas a morte da Espanha do Ibex 35 e da sua casta corrupta, a única forma de solucionar o desemprego e a emigraçom, de deixar atrás os salários e as pensions de miséria, de finalizar com os despejos, de termos umha sanidade, umha educaçom gratuíta, universal e transformadora, umha igualdade real de género, é mediante a recuperaçom da nossa soberania e independência nacional.

Sem direito real a decidir e tomar decisons do que queremos ser e de como queremos construir o País nom é viável aplicar programas de progresso social.

Companheiras, e companheiros: Nom se podem aplicar políticas anticapitalistas e feministas no capitalismo!!

Nom se podem implementar políticas de construçom nacional no quadro da opressom espanhola!!

A soberania nacional é incompatível com o capitalismo.

Só o Socialismo garante a Soberania. Mas sem Soberania nom se pode construir o Socialismo. A equaçom é diáfana!!

Sem soberania nacional galega nengumha das medidas programáticas, das promessas e profecias mesiánicas de Podemos e dos seus aliados autótones, nom se poderám implementar.

Nom queremos que nos concedam direitos desde Madrid e Bruxelas, queremos ser nós quem os conquistemos e decidamos aplicá-los no nosso País.

A recente leiçom grega da traiçom da Syriza voltou a constatar o curto percurso da via eleitoral para transformar umha sociedade.

Nem as direçons das forças de “esquerda radical”, com muitas aspas, que logram vitórias nas urnas tenhem a coragem de aplicar os programas com as que os seus povos as apoiárom, nem a ditadura burguesa e os organismos internacionais do capitalismo permitem semelhante desafio sem umha confrontaçom aberta, apoiada na organizaçom popular e na movimentaçom social.

Gerir as instituiçons burguesas é umha cousa e governar outra. Sem povo organizado e consciente, ativo e vigilante os votos som como um gigante com pés de barro.

Afirmava que nom queremos enganar o noso povo. É por isso que sem descartarmos participar em processos eleitorais, nom adoramos nem convertemos as urnas no fetiche que provocou a desmobilizaçom e o refluxo do vigoroso movimento social que nos últimos anos convocou exitosas greves gerais, ocupou as ruas em defesa do ensino e a sanidade pública, em prol da nossa língua, dos nossos setores produtivos, contra o expólio energético e mineiro …

Da esquerda independentista, socialista e feminista que Agora Galiza representa, defendemos que é imprescindível dar passos adiante com visom estratégica, superando as inércias do curtoprazismo eleitoral, apostando em construir um espaço amplo e plural sem mais condicionantes que a defesa da soberania e a independência nacional galega da esquerda, entre todas as forças, organizaçons, partidos, coletivos políticos e sociais, e pessoas sem adscriçom.

O futuro da Galiza nom se decidirá na bancada das Cortes espanholas nem no parlamentinho do Hórreo, o nosso futuro será decidido nas ruas, nos bairros e nos centros de trabalho e ensino.

O futuro da Galiza nom é possível com reformas, com liposuçons e maquilhagens constitucionais do fedorento e corrupto regime espanhol.

Nem queremos reforma da constituiçom espanhola do 78, nem umha nova transiçom, queremos umha Galiza soberana com justiça social.

A liberdade e os direitos conquistam-se. Os que nos fôrom arrebatando progressivamente nos últimos anos tinham sido atingidos com o suor e as lágrimas das nossas maes e avôs. Nom foram concedidos de forma gratuíta.

Nom podemos seguir adiando a construçom de contrapoder na rua, de recuperar a hegemonia nos movimentos sociais por parte das organizaçons galegas.

Moncho Reboiras foi um dos principais artífices na estratégia de deslocar o espanholismo na direçom do movimento obreiro, estudantil, cultural, vezinhal, juvenil … e 40 anos depois temos novamente este repto.

Moncho Reboiras nom duvidou em confrontar o autoritarismo franquista com firmeza e determinaçom. 40 anos depois da sua eliminaçom física a atual legislaçom espanhola é tam repressiva como a fascista. A Lei mordaça e as permanentes reformas do Código Penal perseguem atemorizar e intimidar os que luitamos para que o povo trabalhador nom se manifeste nem proteste.

Temos que tecer cumplicidades, otimizar tantos recursos e energias dispersas, avançar na configuraçom de um amplo e plural espaço de debate, confluência e intervençom entre toda a esquerda soberanista galega para assim quebrar as tendências sucursalistas impostas pola esquerda jacobinista sediada em Madrid, para podermos voltar a esperançar a nossa gente, tanto ativista da Galiza desencantado e atrair a juventude.

Promover um Pólo Patriótico rupturista deve ser o seguinte passo na reconfiguraçom integral do campo da esquerda patriótica que permita dotar a Galiza, a classe trabalhadora, o povo empobrecido, a juventude e as mulheres, da imprescindível ferramenta unitária com um programa independentista, socialista e feminista. É necessário coragem e generosidade para abrir este processo. Nós temo-la!

Moncho Reboiras nom foi nem é umha estrela fugaz. Segue vivo entre a Galiza que nom capitula nem se rende!

Sentou as bases e os objetivos estratégicos que compartilha Agora Galiza com outras forças e dezenas de milhares de galegas e galegos. O nosso futuro está fora do capitalismo e de Espanha.

Mas este percorrido a dia de hoje deve ser feito conjuntamente, de forma coletiva e unitária entre toda a Galiza que compartilhamos com matizes, mas que compartilhamos ao fime ao cabo, o que Moncho e a sua geraçom nos transmitírom com factos tangíveis e com luitas que ainda alumeiam.

O complexo e turbulento período sobre o que agimos vai-se agudizar em pouco mais de mês e meio como consequência da determinaçom catalana de dotar-se de um estado soberano. Galiza nom pode ficar à margem deste desafio. Nom queremos sermos neutrais nem imparciais. Eis polo que é necessário reforçarmos organicamente a esquerda independentista com vocaçom de seduzir e contagiar o nosso povo na fê de vencer.

Neste 12 de agosto, numha data simbolicamente tam destacada no calendário da Galiza rebelde e combativa, a militáncia de Agora Galiza manifestamos a nossa firme determinaçom de continuar até a vitória com o legado e os sonhos polos que morreu luitando Moncho Reboiras. Dependerá de nós conquistá-los!

Antes mort@s que escrav@s!

Viva Moncho Reboiras!

Viva Galiza ceive!

Viva Galiza socialista!

Viva Galiza feminista!

 

Descarrega a biografia de Moncho Reborias [PDF].

Galería de imagens da homenagem

Comunicado conjunto de Agora Galiza e BNG

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Delegaçons do Bloque Nacionalista Galego e Agora Galiza mantivérom no dia de hoje umha reuniom formal em Compostela com a finalidade de analisar a realidade política que atravesa a Galiza, e de jeito mais imediato, a possibilidade de colaboraçom tendo em conta a próxima convocatória de eleiçons gerais.

As duas forças soberanistas coincidem na necessidade de situar a Galiza e o povo galego, os seus problemas e aspiraçons, como quadro inequívoco de referência. Portanto, sem subordinaçons nem dependências a estratégias ou estruturas partidárias foráneas.

Consideram Agora Galiza e o BNG que o debate sobre a soberania nom é secundário nem aprazável, senom a via para solucionar os problemas mais perentórios da Galiza e das suas classes populares: desemprego, emigraçom, empobrecimento, degradaçom dos serviços públicos. É possível criar um horizonte de esperança e dignidade para a Galiza confiando nas suas próprias forças e com capacidade de livre decisom política.

A defesa do direito de autodeterminaçom desde a Galiza representa hoje, além de umha aspiraçom democrática, o melhor jeito de entrar no debate já aberto sobre os direitos das naçons no Estado.

As duas organizaçons acordárom manter aberto um espaço de diálogo e colaboraçom na perspetiva da análise sobre fórmulas de concorrência unitárias face às vindouras eleiçons gerais.

Compostela, Galiza, 4 de agosto de 2015

Manifesto de Agora Galiza no Dia da Pátria 2015: Direitos sociais, Liberdades, Independência

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As políticas de austeridade impostas na Galiza por Espanha e a troika tenhem provocado o empobrecimento geralizado de galegas e galegos.

Elevadas taxas de desemprego, com destaque na juventude, dificuldades para chegar a fim de mês, perda de poder aquisitivo da maioria das pessoas e das famílias, eliminaçom de prestaçons sociais, deterioramento da saúde e do ensino pola privatizaçom, pensons de miséria, som algumhas das principais consequências das receitas ultraliberais implementadas polos governos do PSOE e do PP seguindo diretrizes da UE.

A ofensiva contra os direitos e as conquistas sociais atingidos em décadas de luitas obreiras e populares tem sido acompanhada pola reduçom das liberdades básicas e o incremento da repressom. A aprovaçom da «Lei mordaça» e as contínuas reformas do Código Penal pretendem intimidar a gente, dificultar e impossibilitar que as pessoas defendamos o que é nosso.

A situaçom da Galiza é crítica polas políticas assimilacionistas impostas polo governo espanhol de Rajói com a colaboraçom da sucursal autonómica de Feijó.

O planificado incremento da dependência e a destruiçom dos nossos sinais medulares como povo e naçom visa inviabilizar o futuro da Galiza. A estratégia que pretende destruir a nossa naçom conta com um novo agente espanholizador: as erroneamente denominadas «forças ruturistas» que reforçam o paradigma espanhol e negam o quadro nacional de luita.

O futuro das galegas e dos galegos e da nossa casa comum chamada Galiza tem que ser decidido por nós mesmas, sem ingerências, tutelagens, nem interferências de Madrid e Bruxelas.

Perante este cenário tam adverso para a maioria social e para a Galiza, nom há mais alternativa que a luita coletiva do nosso povo, a auto-organizaçom e a procura de espaços comuns e unitários de confluência entre a esquerda independentista e nacionalista galega e os movimentos sociais com visom de País.

Agora Galiza -organizaçom socialista e feminista galega de libertaçom nacional-, encara este Dia da Pátria com confiança nas imensas potencialidades que o povo galego tem demonstrado ao longo dos séculos para evitar ser devorado e aniquilado. Porém, os desafios que hoje enfrentamos som dumha dimensom muito superior aos de outros capítulos da nossa história nacional.

O conjunto das forças políticas e sociais galegas, temos a responsabilidade de avançar face à necessária reformulaçom e refundaçom que permita multiplicar energias, recuperar a ilusom e o entusiasmo entre tanto ativista social e militáncia desencantada, e superar as fraudulentas pseudoalternativas elaboradas nos laboratórios de marqueting madrilenos.

Galiza e as suas maiorias sociais necessitam um grande espaço unitário e plural de organizaçom, resistência e luita que nos permita recuperar as conquistas, os direitos e as liberdades arrebatadas.

Galiza, a classe trabalhadora, o povo empobrecido, tem que dar passos firmes e decididos na construçom de umha Pátria nova com justiça social, liberdade e soberania. Mas sem atingirmos a independência isto nom será possível.

bandeira-agoragzViva Galiza livre, socialista e feminista!

Antes mort@s que escrav@s!

Galiza, 25 de julho de 2015

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Actualizaçom 25/07/2015:
imagens Dia da Pátria