Comunicado nº 21. A austeridade capitalista mata!

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A austeridade capitalista mata!

Nom é necessário que a Fiscalia dé a razom às denúncias apresentadas polos familiares das pessoas falecidas pola negativa ou demora de tratamento contra a hepatite C por parte do SERGAS.

As receitas neoliberais impostas pola sucursal administrativa espanhola na Galiza contra o nosso povo, nom só provocárom sete mortes pola falta de atençom das autoridades sanitárias a fornecer Sovaldi, um dos medicamentos imprescindíveis para salvar estas vidas, som responsáveis de muitas mais vítimas polo deterioramento e privatizaçom do sistema sanitário, polo aumento dos suicídos perante a carência de futuro, polo incremento da sinistralidade laboral.

Muit@s doentes nom som tratados adequadamente, som enviados para casa, pois a filosofia que prima nas autoridades sanitárias é reduzir custos, nom salvar vidas, nem garantir a saúde do povo trabalhador galego.

O colapso das urgências na maioria de hospitais, a carência de camas, de pessoal, de material, tem sido denunciada polos profissionais da saúde, e tem provocado multitudinárias mobilizaçons populares, sendo paradigmática a situaçom do complexo hospitalar Álvaro Cunqueiro de Vigo.

As declaraçons de Alberto Nuñez Feijó qualificando de “disparate” a denúncia em curso contra o SERGAS –”por dous ou três doentes, nom me parece lógico relacionar essas denúncias com a austeridade”- exprimem a catadura moral de quem preside a Junta da Galiza.

Só um canalha sem escrúpulos é capaz de manifestar este absoluto despreço pola vida dos seus compatriotas, esta intolerável falta de respeito polas sete vítimas, polos seus familiares e amizades. Nom só estamos governados por bandidos, estamos governados por criminais.

Agora Galiza exige a imediata renúncia de Feijó, do conselheiro de Sanidade Jesus Vázquez Almuinha e das autoridades sanitárias do PP, responsáveis pola aplicaçom dos cortes e políticas austericidas no Serviço Galego de Saúde. É indigno que esta gentalha nos governe.

Nom só há que botá-los, há que julgá-los e condená-los polos seus crimes contra o povo galego. Estes homicídios nom podem ficar impunes!

Na Pátria, 19 de abril de 2016

Direçom Nacional de Agora Galiza

Venezuela: causas, efetos e respostas a um grande revés

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NICNarciso Isa Conde

Ninguém com sentido da justiça e honestidade intelectual pode pôr em dúvida o carácter perverso da guerra económica –desabastecimento de bens de consumo, subtração de divisas, especulação comercial e financeira, e manobras para provocar a desvalorização da moeda– posta em prática pelos inimigos do processo bolivariano em Venezuela.

É também inegável o seu impacto negativo em termos político-eleitorais, potenciados pelo rol alienante da grande ditadura mediática mundial.

É claro, aliás, que a queda do preço do petróleo, induzida em parte pelos EEUU e aliados, fez significativos estragos à economia venezuelana e aos planos sociais do seu governo.

Houve –e há– muita sabotagem económica, múltiplas formas de acaparar, contrabando, evasões, especulações e estafas do grande empresariado privado em combinação com setores corrompidos do governo chavista, para não falarmos na manipulação desde a Colômbia do comercio legal e ilegal em detrimento do país vizinho.

Tudo isso é verdade, como o é que pôde ser melhor contra-restado pelo Estado Venezuelano, enfrentando áreas sensíveis do mesmo que foram contaminadas pela corrupção contra-revolucionária, implementando corretivos mais contundentes em matéria de controlo do sistema de divisas, de comercio exterior e banca privada.

A permanente ameaça militar dos EEUU aumentou o gasto militar da Venezuela em trocas da inversão pública, ao predominar a lógica de fortalecer sobretudo as forças armadas regulares em lugar dum desenho de guerra assimétrica, guerra de todo o povo, iniciativa realmente mais económica e mais dissuasora.

São muitos e difíceis, então, os fatores contra-revolucionários que têm operado –e operam– contra o processo bolivariano. Não tenho dúvidas de que foi –e é e será– assim.

Além dos ataques dos seus inimigos
Na Venezuela operam muito articuladas a contrarrevolução interna e a contrarrevolução imperialista, a teimarem não simplesmente numa restauração conservadora, neoliberal, dentro do “jogo democrático-representativo”; mas num pérfido projeto contrarrevolucionário e colonizador que implica a tomada do seu petróleo, de valiosos territórios e recursos estratégicos vitais.

Isto também, face à pretendida derrota política da insurgência armada e civil colombiana, ao debilitamento de Cuba, o Equador, a Bolívia, o Brasil e à desarticulação do Alba, a Celac e Unasur… e muito especialmente à conquista da Amazónia e as suas imensas riquezas; consumada já a viragem à direita da Argentina e outros contra-ataques prévios e diversos noutros países do Continente, entre os que destacam fortes golpes reacionários em Honduras e o Paraguai, e agora os avances da contraofensiva direitista no Brasil.

De maneira que este duro revés eleitoral, embora incompleto em vertentes chave para provocarem o giro total, não deve ser minimizado; muito menos apresentado do governo venezuelano como um suposto triunfo da democracia.

Trata-se realmente duma vitória das forças da reação, profundamente anti-democráticas, que evita analisar as causas e efeitos com a maior profundidade possível e além dos efeitos perturbadores dos inimigos jurados do processo, algo que toda revolução verdadeira deve dar por sabido.

Isto implica reflexionarmos sobre os erros próprios, sobre as linhas de condução, ritmos e profundidades das transformações.

Acho –e não o digo agora, mas disse anos atrás (1) e (2)– que o processo bolivariano deu sinais prontas de freios e estancamentos –mesmo em vida do Comandante Chávez–, após o formidável resgate da soberania nacional, do incomensurável abatimento do modelo neoliberal e dos extraordinários avances na linha duma democracia participativa e um crescimento da consciência anti-imperialista, anti-capitalista e pró-socialista. Depois, ademais, de avançarem os transcendentes processos de integração e cooperação entre estados latino-caribenhos.

Precisamente no momento em que era necessário e possível aprofundar no processo, o peso morto do muito que ficara do velho Estado, as consequências negativas de construir o partido da revolução desde esse Estado, a estatização (não socialização) duma parte da economia privada, a influência das velhas práticas políticas da “quarta república” (clientelismo, paternalismo estatal, populismo), a aparição da nova corrupção e da cultura de rendas do petróleo em detrimento dos projetos cooperativos e co-geridos, o dispêndio de recursos, o predomínio dos interesses de Estado em detrimento do internacionalismo revolucionário, começaram a desgastar o gume revolucionário do processo, ao não serem devidamente contra-restados.

Tudo isto deixando intacta uma parte fundamental do capitalismo privado local e transnacional, assim como os nutrientes dos seus instrumentos políticos de velha e nova data; o que possibilitou (paralelamente ao desgaste da revolução) a recomposição e acrescentamento das forças afins ao grande capital, particularmente aquelas que surgiram do coração do empresariado contrarrevolucionário e a burguesia transnacional como forças de relevo das velhas partidocracias adecas e copeianas.

Um grande capital a agir no sistema financeiro, nos sectores industriais e agropecuários, nas comunicações, no comercio interior, no comercio exterior, em serviços variados (incluída parte da saúde e a educação), e colateralmente no mundo energético; o que lhe outorgava –e outorga-lhe– poder para perturbar o processo e nutrir as direitas de todos os tipos.

Ao para-militarismo colombiano deixaram-lhe ganhar demasiado terreno no contexto da distensão das relações inter-estatais colombo-venezuelanas.

A defesa do processo do povo armado e duma ótica grande colombina e latino-caribenha, sempre foi mal vista; de maneira que descansou em grande medida essa missão nas forças regulares e nas reservas militares, o que facilitou a acumulação de violência contra-revolucionária interna e a chantagem norte-americana e colombiana.

A política exterior do Estado, impregnada das normas diplomáticas, impôs-se também como política exterior do partido e os movimentos sociais instrumentalizados, debilitando o internacionalismo revolucionário.

A nova corrupção e o novo sistema de privilégios cresceram demais nas filas governamentais e nas estruturas de mando do Estado e do PSUV.

O plano de reconversão da economia de rendas do petróleo e importadora de bens de consumo e de capital a uma economia produtiva, ficou secundarizado; comprometendo enormes recursos na importação de alimentos, artigos de primeira necessidade, maquinarias e bens que poderiam produzir-se na Venezuela. Isto foi criticado com muita antecipação (3).

Agora, 7 anos depois, o presidente Maduro refere-se ao tema como fator colateralmente influente na recente derrota eleitoral e propõe assumi-lo como uma meta pendente e imperiosa.

As tendências socializantes ficaram apenas plasmadas numa distribuição mais justa da renda do petróleo, importantes missões sociais, embriões de poder comunal, leis e projetos sociais audazes com limitados índices de eficiência e deformações eleitoralistas na sua aplicação, e baixos rendimentos. Todo o tema do poder comunal, do poder popular, ficou danado pelo poder burocrático do Estado e o peso das instituições e dos métodos políticos tradicionais.

O socialismo tornou mais retórica e palavras de ordem ocas que transformações anti-capitalistas reais na economia, a política e a cultura. A lógica e a cultura capitalista perduraram e reapareceram algo que o próprio Chávez advertira.

A socialização da grande propriedade privada capitalista, da produção, do grande comercio, dos serviços básicos privatizados, do sector financeiro e do poder, primeiro foi colocado a um lado e depois –vigentes os “pactos de governabilidade” com a grande burguesia– tornaram temas tabus; confiando o desenvolvimento das forças produtivas a um capital privado que nunca teve essa vocação. Igual se passou com a substituição progressiva do sistema de preços por um sistema de equivalências.

Continuou a chamar-se de socialismo uma mistura desordenada de post-neoliberalismo, anti-imperialismo, nacionalismo, capitalismo privado em grande escala e liberalismo político; eliminando as exigências do trânsito para um projeto socialista novo: participativo, inclusivo, profundamente libertário e integral.

Declinação eleitoral
Tudo isto, tudo o que implicava negação de esperanças e certezas positivas, começou a desgastar as bases populares e a força eleitoral do PSUV e aliados. Em 2008 inicia-se esse declive progressivo, com pontuais subidas em que se empregou o calado profundo do liderado de Chávez.

A direita e a direita extrema, esta última com um forte ar fascista, superaram em vários comícios sucessivos o 40% dos votos válidos, aproximando-se cada vez mais ao nível das forças chavistas e tornando uma real ameaça no período post-Chávez.

Nenhuma advertência prudente sobre as causas dessa perigosa tendência nacional, alimentada do exterior imperial, foi devidamente ponderada pelo núcleo bolivariano.

Chegado um momento, apenas Chávez –após sucessivas promessas de retificações adiadas– percebeu os riscos iminentes do estancamento e lançou as suas ideias naquele Aló Presidente especial, batizado na sua edição especial como o necessário “GOLPE DE LEME”, de profundo conteúdo auto-crítico e retificador, e depois formulou o PLANO da PÁTRIA com um sentido semelhante.

Em tais formulações sugeria-se “dinamitar” o Estado criado nessa primeira fase, trespassar todo o poder às comunas, criar poder popular eficaz e avançar numa linha de superação do arraigado “rendismo petroleiro”, desmontar o capitalismo e a sua cultura, e socializar radicalmente a economia e o poder.

O falecimento do líder clausurou, se calhar, essa necessária possibilidade. Os seus sucessores, perante as grandes dificuldades criadas a raiz do disputado processo eleitoral em que Nicolás Maduro ascendeu à Presidência, e perante o auge da desestabilização violenta, optaram por negociar com a grande burguesia e os seus instrumentos políticos, a fazer importantes concessões; entrando mais tarde num tira-puxa superficial; umas vezes com discursos apaixonados e outras com palavras de reconciliação.

As direitas e os EEUU, com determinadas inflexões e giros, mantiveram a sua estratégia de desgaste do regime e das forças chavistas; enquanto o chavismo de arriba, já não tão chavista, praticou reações defensivas e políticas e atitudes que estancaram e desnaturalizaram, ainda mais, o processo bolivariano.

Consequências dos estancamentos e retrocessos
Revolução que se estanca é revolução que retrocede, tanto pelos avances da contra-revolução interna como pela pressão e ação da contra externa, integrada pelos EEUU e importantes potencias capitalistas europeias. Já se formulara esta importante sentencia histórica em relação com o promissório processo venezuelano.

O retrocesso ao interno expressou-se numa progressiva perda de apoio popular e um crescimento do descontento pelo impacto combinado das inconsistentes políticas do regime e do agir inimigo.

Nesse contexto, infelizmente, o genuíno interesse de impedir o retrocesso e enfrentar as direitas, junto com a forte tutoria estatal sobre uma parte do movimento revolucionário, influiu demasiado para que não fosse abordada de maneira equilibrada essa dualidade dentro do processo; debilitando-se sensivelmente a independência dos fatores críticos e o movimento próprio de amplos sectores das esquerdas sociais, políticas e culturais descontentes com o estancamento e a forma de proceder do regime bolivariano.

A mística debilitou-se até fazer possível este recente “pau eleitoral” das direitas unidas pelo seu amo imperial. Esta possibilidade foi formulada pelo autor deste artigo com muito adianto, e sugeri praticar as retificações e a viragem recomendadas pelo próprio comandante Chávez. (4)

Desprezar as diretrizes do GOLPE DE LEME, resistir-se a aprofundar nas transformações, reduzir em boa medida a necessária socialização a simples palavras, evadir um ataque a fundo à corrupção estatal, recusar a radicalização que implicava não só ficar na fase post-neoliberal do processo mas avançar para o derrubamento do capitalismo privado e de Estado, teve um enorme custo político para os sucessores do Comandante Chávez e para o processo bolivariano, hoje com mais riscos de ser revertido que ontem.

Perderam o controlo do Poder Legislativo, que agora poderá ser usado pelas direitas para impulsarem com mais energia o seu projeto contrarrevolucionário integral, incluídos o esforço para anular leis habilitantes, as contra-reformas constitucionais e muito especialmente o referendo revogatório contra o presidente Maduro, se entenderem conveniente não esperarem aos próximos comícios presidenciais.

O PSUV e o GRANDE POLO PATRIO TICO conservam algo mais do 40% do eleitorado, o poderoso Poder Executivo, outros poderes estatais e uma grande capacidade de mobilização, que dariam para muitas coisas se existisse na Direção desse processo uma clara vontade a favor duma viragem revolucionária, resultante duma autocrítica sincera e profunda, traduzida de imediato em factos.

Confesso a minha desconfiança nessa possibilidade.

A resposta necessária
Confio sobretudo na radicalidade popular, que é possível dinamizar em forma ascendente numa etapa em que se vislumbra mais facilmente a possibilidade de perder todo o conquistado, menos a consciência e organização acumulada; numa etapa em que se conformam –dentro e fora do PSUV e do Grande Polo Patriótico–, e no seio do povo-povo, correntes e blocos revolucionários que assumam a ideia de defenderem e aprofundarem no processo a qualquer preço.

Tenho-o dito dantes, sem conseguir a acolhida necessária, que a chave está em contornar o socialismo como simples retórica ou demagogia de esquerda e plasmá-lo em factos; assumindo-o como programa que deve ser aplicado com coerência em transição revolucionária para o novo socialismo; interiorizar as recomendações de Chávez contidas nas teses do GOLPE DE LEME e em grande parte do PLANO da PÁTRIA, e tomar as ruas, caminhos, centros de trabalho e de estudos e as praças, como início duma grande viragem política: assumir isto como pensamento e ação para revertermos a tendência que favorece as direitas na competência política e ideológica atual.

Uma viragem que procure articular as forças transformadoras da sociedade civil popular com as que perduram no interior do chavismo real, anti-capitalistas e pró-socialistas, no seio de diferentes enclaves de poder civil e militar.

Isto implica elevar a condição do extra-institucional, fortalecer a independência dos movimentos sociais e políticos contestatários no que diz respeito ao Estado, preparar-se para cercar e isolar o poder legislativo sob o controlo das direitas e criar novas situações que possibilitem retomar a ofensiva. Combinar, aliás, o rejeito categórico ao retrocesso em marcha com a autonomia necessária frente a órgãos estatais que se resistem ou evadem a viragem para a esquerda e para o verdadeiro socialismo. Voltar a ser força determinante, criando à vez vanguarda ativa.

Talvez seja tarde para impedir o retrocesso total.

Talvez não.

Porém, o que não é válido, é se render, a consciência de que do agir revolucionário depende incluso de que o retrocesso ou intentos maiores nessa direção –em todo o caso ou eventualidade negativa– durem pouco.


1.“Nesse sentido, acho que se perdeu um tempo precioso, desaproveitou-se o rude golpe dado à oposição de direita, deu-se oportunidade para a sua recomposição, deu-se pé a um certo desalento popular e concedeu-se tempo às forças oportunistas, às partes brandas do regime, para continuar a atuar com a sua velha lógica degradante.”

“A corrupção continuou a crescer, o clientelismo estatalista também. Os novos ricos “chavistas” fortaleceram-se e os velhos ricos conservaram poder económico e social. A nova direita capitalista incrustada no governo fez pouco pelo SIM, ao tempo que gerava muito rejeito no povo… Como não se interessam por aprofundarem no processo para a revolução, trabalharam a passo de tartaruga na campanha do referendo. (Narciso Isa Conde, El REVÉS DEL SÍ EN VENEZUELA: POSIBLES CAUSAS Y SOLUCIONES”, marzo 2008, Rearmando la Utopía, pág. 357 e 358)”

2.“A falta de socialismo, os deficits na socialização da economia e do poder, e os desvios no plano ético-moral -presentes e crescentes depois de nove anos de iniciado o processo para a revolução- constituem os principais adversários com um grau muito mais alto de legitimação eleitoral da mudança empreendida e também em fatores objetivamente aliados das direitas.”

“Muitos se dilatou o liderado da revolução e as suas forças motrizes em enfrentarem esses fatores e linhas negativas. Mas ainda há tempo para retificar e para o processo tomar rumo. Tempo e forças. (Narciso Isa Conde.-“Venezuela: una victoria insuficiente”,10 de diciembre 201O REARMANDO LA UTOPÍA, PAG 364,)”

3.“A produção de alimento, a superação do desabastecimiento, a recuperação e o controlo social sobre o Mercal, a maior eficiência das missões, a economia de equivalências e a socialização dos grandes recursos em mãos da oligarquia e as transnacionais deveria avançar firme e progressivamente, sem cair na estatização burocrática. O modelo produtivo deve situar-se entre as prioridades junto à superação da “cultura do petróleo” geradora do consumismo e o esbanjamento de recursos, que à sua vez reforçam a dependência alimentar.

O ataque da oposição e do imperialismo, que aspiram a reverter esse processo gerador de grandes esperanças a escala continental e mundial, não demorará. Os planos da administração Bush e do governo de Uribe, que servem de instrumento, estão em marcha. Urge um golpe de leme interno que harmonize com o combate anti-imperialista despregada com novas energias na política exterior. (Narciso Isa Conde, El REVÉS DEL SÍ EN VENEZUELA: POSIBLES CAUSAS Y SOLUCIONES”, marzo 2008, Rearmando la Utopía, pág. 359 e 360)”

4. “A força eleitoral da contrarrevolução… radica ainda na força económica do grande capital privado local e transnacional, no seu poder mediático, na sua hegemonia cultural nutrida por esses meios e nas suas fábricas de ideologia capitalista, nas suas propriedades e operações financeiras, industriais e comerciais, no poder reversível que conserva em áreas de serviços, colégios e universidades, na corrupção burocrática, no capitalismo de Estado…”

“E essa correlação mudaria radicalmente em favor da revolução com uma reconfiguração das forças de vanguarda e um impulso categórico à socialização (que não é igual à estatização), bem pensado, paulatino, sustido, firme e ascendente; acompanhado do estímulo continuado às mudanças revolucionárias a nível continental e mundial.”

“Não há mais. Revolução que se estanca e isola, debilita-se, retrocede e sucumbe. Revolução que avança, aprofundando, radicalizando-se no seu interior e além, é muito difícil de derrotar.”(Narciso Isa Conde, .-“Venezuela: una victoria insuficiente”,10-12-2013, Santo Domingo, RD, Obra Citada).

9-12-15, Santo Domingo, RD

Andar em dia

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A partir de agora, expressar determinadas ideias, por exemplo, a de Galiza não ser Espanha, pode ser ilegal, e organizar um ato em memória de determinados mortos, ou levar cartazes com fotos de presos pode ser indício de terrorismo.

Saem da prisão os independentistas apresados na sexta passada e a operação Jaro revela-se, segundo se anunciava do começo, parte duma montagem mediática, visto que não há possibilidade de reter os perigosos terroristas para cuja detenção se montou um dispositivo policial tão intenso. Guarda civis encarapuçados a entrarem em domicílios particulares, aplicação das leis de isolamento, retenção de materiais pessoais como prova, viagem à audiência nacional pareciam suficientes para criar uma forte alarma social nuns dias feriados, mesmo se a notícia tinha que abrir-se passo entre a atividade pre-electoral e o caso Asunta.

Mas, durante o fim de semana, as redes sociais, o único termómetro não controlado, ardiam de declarações indicativas de que na sociedade galega não se percebia nenhum terror. Não é só que o estado não encontrasse finalmente delitos de sangue nem ações criminais atribuíveis aos detidos –apenas esse vago e desconcertante enaltecimento do terrorismo–, é que, ademais, se estava a reclamar a liberdade dos presos fora do seu círculo político. Isto é significativo: pessoas de diferentes ideologias, galegos e galegas, cidadãos, vizinhos, amizades, ou militantes de organizações diferentes de Causa Galiza, expressaram com contundência que não consideravam que existisse uma organização armada nem que estas pessoas fizessem parte dela. Conhecemos os militantes, temos caminhado com eles em manifestações ou conversado sobre o país. Podemos ter pontos de vista diferentes, podemos distar nos procedimentos ou nos objetivos, mas não nos causam terror.

As concentrações convocadas a toda pressa por Ceivar na sexta passada serviram para reunir gentes de diferentes siglas, ou sem siglas, que solicitávamos a liberdade dos nossos vizinhos, que testemunhávamos que estávamos lá para solicitarmos um correto trato na audiência nacional ou para nos solidarizarmos com eles e com as suas famílias e círculos íntimos. Porém, por muito que celebremos a sua liberdade, o assunto é preocupante. Culpa-se uma organização que até estes dias era um espaço político de ser o abraço armado de Resistência galega, algo em que ninguém nas ruas acredita. Pior ainda: ficam suspendidas as atividades de Causa Galiza durante um par de anos, o que é tanto como ilegalizar essa organização política sobre a base de acusações que não aparecem concretizadas. E o estado da suspeita ameaça todo o independentismo galego. A partir de agora, expressar determinadas ideias, por exemplo, a de Galiza não ser Espanha, pode ser ilegal, e organizar um ato em memória de determinados mortos, ou levar cartazes com fotos de presos pode ser indício de terrorismo. Antes de entrarmos em pânico, haveria que lembrar que figuras de tanto prestígio mundial como Gandhi ou Mandela protagonizaram ações subversivas contra estados que consideravam abusivos. Mas agora já não é possível, devemos entender, estar contra o estado e ser inocente. O pacto por Espanha que ameaçam com assinar vários partidos estatalistas pode fomentar este tipo de persecução ideológica e, à medida que o movimento independentista catalão dê passos efetivos, parece previsível que esta política do medo se incremente. Santiago e fecha Espanha!, sugerem esses partidos. Finalmente, entre as provas que se dão para ilegalizar Causa Galiza figuram algumas que afetam o conjunto do soberanismo galego: manter conversações com o BNG, ou ter participado no processo de constituição de Anova aparecem despudoradamente mencionados no procedimento. A audiência nacional desliza no seu informe estas frases aparentemente inócuas e a imprensa do estado já se encarregará de as difundir da maneira apropriada para que qualquer organização que emita postulados legíveis como independentistas pareça envolvida na suspeita. Perante esta situação, o medo pode multiplicar-se e deixar-nos sem possibilidade de atuação. Medo de pensar, medo de dizer o que se pensa. Medo de que se leia o que nem sequer foi dito. Ou, talvez, seja hora de expressar alto e claro a nossa solidariedade com as pessoas detidas, e independentemente de partilharmos ou não a sua ação política, lembrar que num estado de liberdades, ser independentista não pode ser considerado nunca um delito. Talvez seja hora, também, de as forças galegas formularem um pacto por Galiza. Para nos dar coragem. Para lutar contra o medo. Para saber o que realmente se passa.

Artigo de Teresa Moure publicado em Sermos Galiza

Terça feira, 03 de novembro do 2015

 

Enaltecimento

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Chegam notícias, ainda confusas, como sucede sempre nestas ocasiões, duma “nova” operação policial (melhor seria precisar, operação político-mediático-policial) contra o independentismo galego.

Hoje parece que o alvo é a organização política Causa Galiza: as notícias falam de que a totalidade da sua Direção Nacional foi detida, numa operação desenvolvida em Vigo, Ponte Vedra, Muros, Boiro e Compostela, sob a acusação de “enaltecimento” do terrorismo.

É necessário, urgente e imprescindível mostrar a solidariedade com as pessoas detidas, e reclamar a sua imediata posta em liberdade.

Não é possível entender esta operação de repressão sem atender ao momento em que se produz: como bem sabemos, na Espanha não há nunca nenhuma campanha eleitoral sem a sua correspondente montagem político-policial… Sem dúvida, hoje são muitos os gabinetes da Espanha onde estão aguardando pola carnaça para poder sair nos meios como os grandes defensores da “democracia”, a “unidad de españa”, a “legalidade”, etc…

É em situações como esta quando as palavras aparecem novamente entre nós cheias de significado, de valor, de sentido. É agora que é importante a solidariedade, o apoio, a exigência de liberdade, a reclamação dos direitos, a defesa da dignidade,… É agora que é importante não ficarmos calad@s.

Porque é em momentos assim que sabemos que junto com as palavras, o silêncio, os silêncios, também significam. E muito.

Empreguemos portanto a nossa voz para evitar, para impedir, para quebrar esse silêncio, e mostremos a nossa solidariedade reclamando a imediata posta em liberdade das pessoas detidas.

Igor Lugris

Sexta-feira, 30 Outubro 2015

Catalunha, ponto crítico da rutura real com o regime do 78

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O processo independentista catalám vai ser mui complexo e longo, pragado de contradiçons, de avanços e retrocessos.

Atualmente as eleiçons catalanas de 27 de setembro som com toda certeza o elo fraco da cadeia de dominaçom imperialista espanhola. Paradoxalmente as forças e partidos espanhóis que se autodenominam de “esquerda ruturista” negam a existência deste ponto crítico, ao manterem similar discurso dos dous principais partidos do regime postfranquista. A “terceira via” que a coaligaçom encabeçada por Podemos e IU afirma defender na Catalunha -aparentemente equidistante do bloco unionista e do independentista-, é sem lugar a dúvidas o melhor instrumento de Madrid para evitar que o povo catalám decida democraticamente o seu futuro optando pola independência nacional frente a Espanha. Aplicando um conjunto bem articulado de sofismas e falácias que negam a inseparável vinculaçom entre mudança social e soberania nacional, o obsceno relato da new caste da Complutense reforça a “economia do medo” ensaiada com êxito polos USA desde 2001.

O progressismo hispano nom emprega as mesmas patéticas ameaças dos partidos tradicionais, empapados de catalanofobia. Porém, entre por um lado nom descartar umha intervençom militar (Morenés e Chacón dixit), falar de bloqueio financieiro ecorralito, fuga de empresas e incremento do desemprego, perda das pensions, exclusom imediata da UE, expulsom do Barça da Liga espanhola de futebol, etc, e polo outro identificar independentismo com a corrupçom e as políticas antisociais e reacionárias dos governos de Pujol e Mas, existe umha elevada coincidência: intimidar, utilizar o medo e as ameaças para impossibilitar a rutura e manter o status quo.

A disparatada proposta de Pedro Sánchez de trasladar o Senado de Madrid a Barcelona é um desesperado e improvisado pisco de olhos para frear a secessom e a fuga de votos do PSC ao independentismo.

 

“El País” recupera o relato fascista

O discurso único imposto nos meios de (des)informaçom da burguesia, paradigmaticamente exprimido no cabeçalho de “El País” do domingo passado, recupera o relato fascista ao caraterizar como separatismo a vontade de afirmar a liberdade nacional. Nom será determinante no 27S, mas sim é de grande utilidade para reforçar o chauvinismo espanhol na Galiza e entre a classe obreira do conjunto do Estado, carente de um referente revolucionário.

A intolerância e intransigência espanhola frente às mornas demandas de plenas competências estatutárias e renegociaçom do Pacto Fiscal, unido à amputaçom do Novo Estatut, aprovado no Parlament e referendado em consulta popular, tenhem sido determinantes para o desenvolvimento da consciência independentista entre amplos setores populares. Mas nom só! A diferença da Galiza, a perda da soberania nacional da Catalunha é muito mais recente. Foi no século XVIII quando a monarquia bourbónica logra dobregar militarmente a naçom mediterránea. No século XIX perde os seus direitos políticos, a capacidade de decidir, fazendo parte da “naçom espanhola”. Estes factos históricos, unidos à determinaçom de um setor destacado das suas elites de resistir à uniformizaçom cultural e manter acesa a reivindicaçom da recuperaçom da sua soberania, tenhem facilitado a pervivência e desenvolvimento de um ativo e vigoroso independentismo burguês e pequeno-burguês, eleitoralmente hegemónico no período da II República espanhola. Umha das causas do golpe franquista de 1936 era impossibilitar a emancipaçom das naçons oprimidas por Espanha: “prefiero una España roja a una rota”.

Mas também a nova esquerda revolucionária que se fragua ao longo das décadas de sessenta e setenta do século XX tem permitido facilitar a confluência do movimento obreiro, da luita de classes com a luita de libertaçom nacional. Nom devemos esquecer que a Catalunha tem a honra de ter sido a única naçom sem estado com representaçom direta na III Internacional por meio do PSUC de Joan Comorera.

Isto permite entender como as forças marxistas de libertaçom nacional após serem submetidas a turbulentos processos de catarse caraterísticos da período da II restauraçom bourbónica, fôrom capazes de vertebrar um entusiasta movimento político-social nacional com caráter de massas, de programa anticapitalista e feminista, plasmado na CUP. A sua ainda natural carência de hegemonia entre o povo trabalhador é o principal obstáculo para que o processo consiga a curto prazo o objetivo de um Estado catalám.

Mais alá das incógnitas que a dia de hoje ainda nom se podem resolver, pois a correlaçom de forças eleitoral e de representaçom parlamentar som fatores importantes, a burguesia que representa Convergência e também os setores intermédios representados por ERC, nom vam despreender-se do seu legalismo, e logicamente carecem da vontade e da coragem para um confronto direto com a Espanha, que tal como sempre fixo nom duvidará em empregar a força bruta para evitar que se continue comprimindo o impêrio.

Na história do século XX som casos excecionais aqueles em que a independência nacional emana de um “acordo”, tal como aconteceu com a República Checa e a Eslováquia em 1993. Mas este exemplo nom se pode entender à margem da prévia dissoluçom da URSS.

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Avanços e retrocessos

O processo independentista catalám vai ser mui complexo e longo, pragado de contradiçons, de avanços e retrocessos. É umha ingenuidade acreditar que umha maioria eleitoral e/ou parlamentar independentista vai ser aceitada pola metrópole.

Os setores mais coerentes da esquerda revolucionária independentista catalana som conscientes da fragilidade de um processo hegemonizado polo tandem CDC/ERC, da impostergável necessidade de seguir reforçando um contrapoder assentado entre a classe obreira e as camadas populares, de ganhar o povo trabalhador do cinto periférico de Barcelona, de aplicar umha estratégia de desobediência civil, mas nom só. Lamentavelmente a Espanha nom vai permitir a via pacífica para atingir a independência das naçons que oprime.

A reivindicaçom da independência nom se deve reduzir a perseguir tornar um Estado mais da UE, com soberania limitada, onde se perpetue a exploraçom e dominaçom da maioria social. O Socialismo é a única garantia para assegurar que a independência nacional nom se circunscreva a um mero formalismo. Nom só há que quebrar com Madrid, também com Bruxelas e Washington, abandonando a UE, FMI e a NATO.

A dia de hoje nom há garantias de que Mas e Junqueras nom procurem acolher-se a umha negociaçom de reforma constitucional federalizante com Madrid, após a previsível perda da maioria absoluta do PP em dezembro. Nunca nos devemos fiar da burguesia! Tentarám ganhar tempo para umha “soluçom” que só atrasará o inevitável: umha República catalana.

Galiza, 21 de setembro de 2015

Carlos Morais

Texto publicado no nº 164 do Sermos Galiza

Inevitavelmente soberania

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Artigo publicado originalmente em Sermos Galiza,
por Teresa Moure.

Dizem que o regedor duma cidade galega vem de declarar que a reivindicação de soberania está ultrapassada pelo momento histórico. Dizem que ele assegurou que prioriza os direitos sociais sobre a soberania. Talvez perceberam mal – os jornalistas, já se sabe – e ele nunca tal disse. Nisso quero acreditar porque uma declaração semelhante seria demagógica; destinaria-se a procurar a cumplicidade pública num momento de crise. Aliás, e mais grave ainda, estaria-se a demonstrar que não se entende nada de Política quando se convoca para atender o urgente sobre o necessário. Decidir entre pão ou justiça. Decidir entre dispor de eletricidade na casa ou ter capacidade de gerir os recursos. Decidir entre acabar com os despejos ou construir uma política de vivenda em defesa da classe trabalhadora. Essas dicotomias são absolutamente falsas: sem justiça social não há pão; sem possibilidade de administrarmos os recursos energéticos apenas sustemos os benefícios das empresas; sem soberania dependemos do que outros decidam fazer. Soberania é, portanto, igual a direitos sociais. Sem dicotomias. Quem nos declaramos independentistas não atuamos por estética, mas por ética. Não nos perdemos em palavras bonitas. Trabalhamos por uma alternativa política que assegure para a maioria invisível da população uma vida que pague a pena de ser vivida −a minoria bem estabelecida no sistema já a tem garantida−.

Como nos habituamos a que os médios de comunicação diluam toda a força das mensagens alternativas em conteúdos vácuos, os conceitos básicos da política parecem feitos, como sugeria Orwell, para dar aparência de verdade ao puro vento. Tudo é permitido. Vivam os jogos malabares! Despovoamento do rural, migração maciça da juventude, diretrizes económicas ao serviço do capital, recursos naturais minados por interesses alheios e desastres ecológicas irreparáveis obrigam, porém, a revalorizar o termo soberania, nunca a enfrentá-lo às necessidades mais elementares dum povo maltratado.

Um dia, os cientistas da natureza descobriram que a Terra era redonda. Não tinham grandes instrumentos de observação; conceberam a hipótese na pura teoria e pagaram bem caro, frequentemente com as suas vidas, uma afirmação que se opunha às crenças teológicas imperantes e associadas diretamente ao poder. Daquele momento, ninguém no seu bom juízo pode permitir-se duvidar de se a terra é redonda. Simplesmente ficaria desautorizado por se atrever a sugerir que é plana. Nas disciplinas menos empíricas, como a Teoria Política, instaurou-se, no entanto, um paradigma onde tudo, absolutamente tudo, pode ser matéria de opinião. Um observador ingénuo poderia pensar que esse paradigma é democrático, visto que o pessoal pode opinar à vontade. Na realidade, inaugurou-se o universo do tertuliano, esse ser que difunde as suas ideias sem contrastação mas que, como está colocado diante de poderosos microfones, consegue uma reputação que avaliza qualquer disparate. Por isso cumpre lembrar que o conceito de soberania remete diretamente à noção de poder: quem decide, como é que decide e porquê. No âmbito doméstico, se a dicotomia do regedor mencionado fosse certa, diríamos que uma pessoa poderia delegar em outra, deixando de decidir o que compra para que o decidisse o vizinho do lado, se assim assegurasse ter um prato na mesa. Mas ter ou não o prato na mesa dependeria exclusivamente nesse suposto da boa vontade do vizinho do lado. Daí, diferentes doutrinas políticas trabalhariam visualizando o conflito possível entre os vizinhos e os seus interesses ou minimizando-os, mas na lógica quotidiana, todo o mundo preferiria decidir sobre o seu. Isso é soberania.

No ano 2014 diferentes especialistas em Teoria Política, Economia, História, Linguística, Filosofia e Análise do discurso, junto a ativistas dos mais variados movimentos sociais foram convocad@s na Universidade de Santiago de Compostela por um Curso de Verão que tive a honra de dirigir. O título do encontro era Soberania(s): corpos, hábitos e territórios. Contra qualquer limite académico e desafiando a estreiteza habitual dos espaços universitários, trabalhamos as noções de Independência e Estado, a história do pensamento nacionalista galego, mas também o plano simbólico da defesa da língua e do seu futuro num âmbito internacionalista, o direito a decidir sobre o próprio corpo ou o território dos cuidados, espaços estes dois privados que entram em confluência com o público. Nessa perspetiva interdisciplinar, as noções e as práticas emanadas do feminismo, do decrescentismo, do reintegracionismo, da auto-gestão caminharam de mãos dadas com as tradicionais formas da esquerda independentista galega para obtermos resultados altamente satisfatórios do ponto de vista académico –por não falarmos em que eram revolucionários do ponto de vista político –. Daquela experiência extraio a conclusão de que Soberania é um conceito tão irredutível, tão potente e inquestionável como o da redondeza da Terra. Se ainda alguns julgam que podem prescindir dum tal conceito e manter-se em linhas minimamente transformadoras, provavelmente não estão corretamente informad@s, tal e como aconteceria se assegurassem que a Terra é plana. O fluir de ideias revolucionárias que emerge nesta altura na Galiza –dos ativismos de estrela vermelha às práticas autárquicas, das diversas praxes feministas ao desafio de se instalar na língua acossada pelo poder e mesmo a escrevê-la numa ortografia diferente da incutida na escola– compõem um leque amplo de estratégias que devem procurar sinergias conjuntas para dar alternativas reais num panorama político devastado e desolador.

No amplo espectro do soberanismo galego, fragmentado e plural, assistimos nas últimas semanas a diversas manifestações de fortaleza. Uma, a convocatória unitária dum Dia da Pátria. Outra, as distintas homenagens oferecidas ao combatente Moncho Reboiras, assassinado na Ditadura. Ambas têm uma alta potência simbólica. Porém ambas podem ser reinterpretadas no mundo dos opinadores. O 25 unitário pode ler-se como apenas uma maneira de encenar uma candidatura unitária perante determinados comícios eleitorais. Era muito mais que isso quando alguns discursos invocavam explicitamente a rutura democrática. As homenagens a Reboiras podem criticar-se como um obituário onde gastamos as forças em atos de consumo interno, que apenas conseguem eco fora dos nossos âmbitos imediatos. Mas a memória serve para alimentar a esperança. Obviamente, o ruge-ruge mediático e o nosso criticismo continuado podem minar tudo. Por isso talvez deveríamos convocar urgentemente a honestidade no atual panorama e não tolerarmos a simplificação. Para que ninguém possa afirmar que escolhe primar os direitos sociais sobre a soberania. Para que ninguém possa declarar que a Terra é plana.